Os meus filmes e séries de 2024
Estes são os filmes e séries que considerei mais memoráveis este ano. Prefiro isso a dizer “melhores”: são aqueles que me deixaram uma marca mais profunda por bons motivos.
Cada título tem um link para a sua página no Letterboxd, onde aparecem os streamings em que ele estiver no local de onde vocês visitam. Escrevo quase todos os títulos na língua original.
Menções honrosas
Here: grande obra de maturidade de Zemeckis.
I Saw the TV Glow: um prenúncio do futuro do Cinema.
Chime: dose concentrada de Kiyoshi Kurosawa.
La habitación de al lado: elegantíssimo Almodóvar.
A Different Man: cínico e delicioso.
Civil War: acho que ainda se falará muito sobre ele nos próximos tempos.
Os mais memoráveis de 2024
10º: Sasquatch Sunset. Uma comédia dramática com uma das premissas mais inusitadas da História do Cinema. Fazer este filme foi um ato de coragem e ele merece ser visto.
9º: Ripley. Se nós torcemos pelo assassino matar e não ser descoberto, será que o verdadeiro assassino somos nós? O intérprete de Ripley tem de dominar todas as suas camadas e matizes para levar o público a essa dúvida. Nesta série cheia de estilo e suspense, Andrew Scott triunfa. Para mim, a sua melhor personagem desde o Moriarty de Sherlock.
8º: Joker: Folie à Deux. Uma fantasia autodestrutiva. O verdadeiro filme autoral feito por dentro do gênero de super-herói, que por fim subverte e renega. Uma obra admirável que sofreu algo muito parecido com bullying online e que nos leva a perguntar quem serão realmente os loucos aqui.
7º: Challengers. Quando Guadagnino se solta e nos permite ir perdendo todo o respeito pelos seus personagens, é divertidíssimo e fascinante. Em Challengers, ele fez um filme que se vai descascando, como uma cebola, e ficando cada vez mais curtido e engraçado.
6º: Ghostlight. A história de uma família que consegue superar um trauma graças ao Teatro, interpretada por uma verdadeira família - pai, mãe e filha - de atores. Um filme pequeno, intimista, muito carinhoso e que aquece o coração.
5º: Anora. Um ritmo frenético e cheio de inesperados que, ao mesmo tempo, lembram Tangerine e mostram o caminho que Sean Baker trilhou desde então. Anora é tão bem interpretada por Mikey Madison que, no fim do filme, cheguei a pensar “poxa, espero que ela esteja bem”.
4º: Kinds of Kindness. O encontro de Yorgos Lanthimos com Emma Stone é uma das maiores felicidades artísticas do nosso tempo. Não é só por eles parecerem ter muita cumplicidade e confiança um no outro, mas porque as suas carreiras estavam no momento ideal para poderem criar filmes como este: desbragados, cruéis, cheios de excessos e divertidíssimos.
3º: The Substance. Não sei como foi na cidade de vocês, mas na minha The Substance provocou algo realmente admirável: salas e mais salas cheias de espectadores que vinham ver o último rebento duma linhagem do Terror que, creio, não está muito acostumada a salas cheias. “Body horror”, monstros e ficção fantástica do século 19 misturam-se neste que é um dos acontecimentos cinematográficos do ano.
2º: Kneecap. Já li comparações com Trainspotting e acho justas, não tanto pela representação de drogas e sexo (que são muito bem representadas), mas pela energia, pela inconveniência política e pela pura descarga de adrenalina. Quem dera que mais filmes tivessem esta alegria.
1º: Baby Reindeer. Eu sei que houve muita fofoca na reação à série de Richard Gadd, mas também acho que isso mascara o seu maior sucesso: mostrar que, mesmo numa relação não consensual como é a do abuso, ela não deixa de ser uma relação, com papéis e padrões de comportamento que se estabelecem entre vítima e abusador (e que estes não deixam de ser vítima e abusador por isso). A sua honestidade emocional é única, quase como se Gadd tivesse feito a série para mostrar ao terapeuta, e Jessica Gunning é magistral num papel muito difícil e cheio de armadilhas. Baby Reindeer é uma série difícil, moralmente desafiadora, uma joia que nos faz sentir privilegiados por a vermos e, portanto, o título mais memorável de 2024.
E ainda…
Tecnicamente de 2023, mas só vi este ano e achei brilhantes: La Chimera; Orlando, ma biographie politique; Los Colonos.
E mais ainda…
Não consegui ver, mas estou muito curioso: Les Graines du figuier sauvage; All We Imagine as Light; Queer.
Obrigado e até ano que vem!